No momento em que se espera que a reforma da previdência, por si só seja capaz de iniciar um ciclo virtuoso de expansão de investimentos no país; e que se cogita liberar a parte não remunerada dos depósitos compulsórios para irrigar de crédito novo (sic) os milhões de micro e pequenas empresas carentes de crédito; ou, enfim, que na contramão da queda de PIB mundial a economia brasileira (sem grau de investimento das três agências de risco mundiais) de repente se revele a musa casta para os excitados investidores internacionais até agora entediados com a falta de projetos interessantes para gerar retornos para os recursos que administram mundo afora; enfim, no meio dessas boutades todas, vale a pena pensar um pouco sobre o que é o desejo e o que é realidade no complexo quadro nacional.

Infelizmente, não é a taxa de juros que desloca a retomada furiosa dos investimentos, mas, sim, o retorno esperado dos negócios: ou seja, os juros medem, sobretudo, o nível de risco de uma economia (para os financiadores e os rentistas parasitários da economia) e a expectativa de retorno (preços que remunerem CAPEX e mantenham OPEX) para os investidores e empreendedores.

Com mais dinheiro na tesouraria, bancos compram mais dívida pública mesmo que a SELIC chegue a 2% ao ano e não irrigam de crédito nem as micros e nem as pequenas ou médias empresas (a não ser na margem…ou nas profundezas das margens…).

Se o principal contrato de uma sociedade (sua Constituição) se mostra extremamente elástica (sic) ou maleável (sic) para abrigar quaisquer interpretações conforme o vai da valsa de seus operadores, gestores ou guardiães, o que dizer da segurança jurídico-contratual dos contratos firmados entre meros agentes públicos, privados ou individuais dessa mesma sociedade?

Se a reforma da previdência não embute estados e municípios e privilegia casta de corporações públicas (abandonando seu principal pressuposto que era prover igualdade de tratamento dos entes atingidos, e não continuar a onerar o agente privado para proteger e manter ganhos dos entes corporativos públicos e os entes não civis), que impacto se espera ter esse novo arranjo distributivo sobre a estrutura de oferta e demanda da produção nacional?

Ou, a mais nova boutade, que é se discutir a reforma tributária falando APENAS sobre impostos indiretos e deixar intacto o perfil de impostos regressivos e progressivos que mantém e amplia as desigualdades de renda já seculares na economia nacional?

Ou seja, a discussão é sobre a magia de um imposto só, regressivo e perverso sobre a produção e que induz à desintermediação financeira ao criar um custo fixo de 2,5% para todas as transações financeiras que se fizer no país (e que será embutida e repassada para o consumidor final nos preços de bens e serviços formais existentes na economia)?

Para não falar do pântano comportamental de um país que ainda parece hesitar entre escolher viver na barbárie das relações pessoais e políticas e que, em relação a resto do mundo, seus principais quadros dirigentes parecem ter optado pelo confronto (em oposição à concertação), e pela primazia de retornar aos primórdios da civilização, colocando em dúvida, além da evidente e clamorosa questão ambiental, até a curvatura dos astros?

Dinheiro não gosta de ruídos e retornos não convivem com serviços elevados de dívidas…

Principalmente quando o perfil dos investimentos que precisam ser feitos no país, possuem um horizonte de médio e longo prazo, eis que são demandados investimentos em área de longo perfil de geração de resultados, como a saúde e a educação, a inovação e a ciência e a tecnologia, sem esquecer a tão decantada infraestrutura (entre projetos novos, projetos de modernização e ampliação e projetos inacabados que já somam a mais de 6.000 ativos).

Ou seja, para haver retomada de investimentos há que se ter esperança e disposição de propor e discutir o futuro, e perspectiva de geração de receitas (o que pressupõe a existência de quem consuma o que se irá produzir entre bens e serviços públicos e privados): ou seja, consumo e investimento não são, senão, uma mesma componente inextricável do processo de crescimento.

Assim como o retorno dos empreendimentos é que gera o lastro para remunerar ativos que irão buscar no mercado de aplicações (pela colocação de papéis de risco e papéis de dívida) a liquidez que necessitam para remunerar a formação de capital e a sua manutenção de operação ao longo do tempo.

Os juros são parte subsidiária e complementar desse processo de geração de retornos dos investimentos: daí porque sem mercado de risco forte e com livre acesso para fruição de liquidez, há a financeirização excessiva e estéril da liquidez e o seu descolamento das atividades desenvolvidas no lado real (tangível) da economia.

E a obtenção dos retornos demanda ambiente de negócios favorável; estabilidade das relações institucionais; ambiente propício ao conhecimento, à criatividade, à inovação e à busca da produtividade e da eficiência, mercado de consumo de bens finais (assim como disponibilidade de insumos básicos e intermediários e facilities e utilities com oferta segura e preços competitivos).

Enfim, diferentemente dos juros – cujos preços, seus determinantes e condicionantes, e sua oferta são definidos em ambientes EXÓGENOS à produção de bens e serviços – os fatores que explicam e condicionam as expectativas de retorno são determinados no ambiente ENDÓGENO da produção: ou seja, dependem de escolhas que dizem respeito ao empreendedor que sabe “o quê” e “como” fazer a sua produção. E do empreendedor que vai assumir e gerir os RISCOS de EMPREENDER, FORMAR E MANTER ATIVOS E PRODUZIR bens e serviços ao longo do tempo.

Ou seja, tudo o que não se leva em conta ou é tido como irrelevante hoje para fomentar e reiniciar um ciclo virtuoso de crescimento da economia no país.