Entre tantas projeções que já começam a se desenhar para o Brasil pós-pandemia, uma constatação preocupa a todos.

Como o país poderá contornar um cenário externo fechado e voltado para a realidade singular de cada país que também foi afetado pela pandemia. Ou seja, crescer através de exportações, investimentos diretos ou via o mercado de dívidas parecer ser muito difícil.

E com um cenário interno resultante de uma queda contundente do PIB (que, em termos acumulados poderá chegar a 10% ao mais); uma fusão de todos os indicadores de emprego, subemprego, desocupação, desalento e obsolescência ocupacional em um macro agregado trabalhista (que podem no conjunto superar os 60%); e um excesso de endividamento de todos os agentes públicos ou privados, individuais e empresariais ou coletivos (que pode superar o nível de 100% do PIB, no caso público, ou mais do que a receita bruta ou a renda dos agentes privados).

É como se a economia do futuro mais imediato estivesse a demandar um olhar sobre o que restou para encontrar em si mesma a saída que mais facilmente valor pode lhe acrescentar.

Em primeiro lugar, o maior fundamento: PARA QUEM faremos os esforços de recuperação da economia?

O QUE fazer?

Tudo o que leve à maior renda disponível para aqueles que geram valor e produto (e, portanto, investimentos, emprego de trabalho e de todos os demais fatores de produção, das matérias-primas ou uso racional de recursos naturais e do conhecimento existente). Com a prevalência de atender setores que contam com demanda reprimida secular, como os são aqueles relacionados à satisfação das necessidades presentes, mas, acima de tudo, que preparam a sociedade para a recepção das gerações que continuarão o esforço de restauração que se fará premente.

COMO fazer (se há alto endividamento dos agentes econômicos e as restrições e riscos inerentes a qualquer processo de retomada de atividades fraturadas e o capital financeiro e de risco têm de observar muitas regulamentações e imposições legais e infra legais)?

É preciso retomar à originação do valor intrínseco das atividades econômicas.

A forma mais natural de geração de valor é aquela que se origina na própria atividade realizada: QUANTO do que faço ou que produzo ou do que OFEREÇO à atividade de produção (do trabalho ao capital, do conhecimento ou das matérias primas aos serviços de apoio que são demandados antecedente e posteriormente às atividades que quero realizar) VALE ou EQUIVALE ao que DEMANDO à atividade de produção (do mesmo trabalho ao capital, do conhecimento ou das matérias primas aos serviços de apoio que são demandados antecedente e posteriormente às atividades que preciso que outros realizem)?

Para realizar essa EQUAÇÃO (para que esses fluxos tenham o mesmo valor, ou que sejam equivalentes entre si) é preciso recursos (para investir e manter) para gerar O QUE se produz. E quanto mais e melhor se realizarem essas atividades (produtividade) mais haverá para remunerar TODOS os fatores necessários à produção.

Se bem feito, gera-se um EXCEDENTE (um GANHO) que remunera e paga o que foi feito e ainda se gera um tanto que possa ser reinvestido do que se faz.

Dessa simplória visão há um TANTO de conhecimentos esquecido ao longo do tempo.

TUDO há que gerar esse excedente. O que DIFERENCIA escolhas políticas ou de organização de sociedade e organizações é o DESTINO que se dá desse excedente criado.

Assim, há que haver um GRANDE COMPRADOR que antecipe os recursos necessários em todo o ciclo de geração de valor do que será gerado na economia.

O que será gerado (renda a receber) se comprado antecipadamente NÃO GERA DÍVIDA (e requer um taxa de desconto equivalente a juros baixos que não sejam maiores do que o crescimento anual da produtividade média nacional: o viés é agiotagem, institucionalizada ou não).

O que requerer esforço extra da produção pode ser arrendado de grandes fornecedores (como terra, maquinário, conhecimento, ativos fixos ou móveis), o que gera ALUGUEL ou RENDA DE ARRENDAMENTO, que também não se constitui em dívidas (e pode ser provido isoladamente ou por Fundos, como os Fundos Imobiliários, os de arrendamento de ativos, e dai por diante).

Isto vale para a produção de bens, serviços ou quaisquer outras atividades de baixa ou pequena complexidade, mas, também vale para as grandes plantas de produção ou para os investimentos em infraestrutura.

As grandes empresas – antes de se globalizarem e se tornarem mais corporações financeiras do que polos de produção – permitiam que seus fornecedores ou clientes finais fossem financiados sob os riscos de seus capitais (após, como é claro, homologar fornecedores e segmentar clientes). Seu risco de crédito era o grande guarda chuva para inclusive a criação de outras empresas (as start ups de hoje), geradas a partir dos próprios requerimentos de produção, manutenção, serviços antecedentes e complementares à produção, externos e externos aí incluindo atividade de leasing, finanças ou mesmo o real state.

Também o GOVERNO sempre é um grande comprador de bens e serviços, ancorado na sua capacidade de homologar fornecedores privados (do país e do exterior): os direitos a receber resultantes de medições ou de pagamento se contratos de prestação de serviços são passíveis de serem aceitos por bancos se há capacidade fiscal para resgate de suas obrigações junto a terceiros.

Esses recebíveis possuem legítimos efeitos comerciais, porque ancorados em serviços que geram excedentes através de tarifas públicas reajustadas em termos reais, medições, e tantos outros instrumentos representativos de liquidez.

Quando se clama por maior flexibilidade para se financiar a produção (e até a infraestrutura), se analisa a geração interna de retorno do caixa, e o EBITDA: mas, para se contratar os projetos TUDO MENOS O FLUXO DE CAIXA, ou o valor intrínseco da produção, constitui objeto financiável para investidores e financiadores.

Quem sabe, ao se “reestartar” a economia, a razão volte a imperar.