Quando uma pessoa apoia a realização de um ato, mas se recusa a assumir qualquer responsabilidade por suas consequências, é bem possível que, primeiro, não saiba, de fato, o que está apoiando; segundo, ignore que pode ser atingido pelas consequências do que está apoiando; terceiro, esteja se lascando (sic) pelas consequências que o seu apoio pode gerar para terceiros; quarto, por certo, desconheça as causas do que está a apoiar (passado) assim como, quinto, esteja pouco se importando se as saídas apontadas resolverão o passado (causa) ou se estarão apenas adiando uma nova crise (futuro); ou ainda, sexto, tudo junto e misturado, não ligue se o que apoia e o que obtém como saída, só venha a arraigar as causas (passado) e multiplicar os seus efeitos (futuro): ver ao resultado do Data Folha, sobre apoio e repúdio a pagar a conta da paralisação…

Da questão quase hamletiana, sobrevém uma constatação: quem apoia e quem provê saída – assim como quem poderia (ou deveria) esclarecer a situação – não tem a menor ideia sobre o que está de fato acontecendo.

Ou seja, na raiz da questão: não há informação consistente; apenas dados esparsos, explicações parciais, pontos de vista, palpites e todos os seus derivativos residuais.

Por exemplo: só com a exacerbação da crise, soube-se (sic) – além do rol dos inevitáveis especialistas –, que tão importante quanto a autonomia na produção do petróleo é que o produto fosse bom o bastante para evitar mais importações para ajudar seu refino, quanto ter a capacidade de refiná-lo no próprio país. Segundo, que dolarizar diariamente seus preços numa economia cotada em reais, e não por média móvel para dessazonalizar os seus efeitos contracionistas, também é (ou deveria ser) senão preocupação de gestores e acionistas da petroleira, pelo menos (sic) da equipe econômica que cuida, ou deveria cuidar, de todos os preços da economia…

Ou ainda: que a estrutura do setor de transportes é oligopsonizada (nome esquisito para falar da organização sob oligopólio) dos fornecedores de insumos e produtos ou serviços básicos e intermediários à oferta de bens e serviços finais: 30% dos caminhoneiros e caminhoneiras trabalham por conta própria; os demais 70% dos serviços são providos por pessoas jurídicas (empresas) que contratam e subcontratam os fretamentos. Mas, convenhamos, numa economia com índices de iniquidade e desigualdade tão grandes, como a brasileira, o fenômeno nem é novo nem muito menos adstrito ao setor de transportes.

Ou que, desonerações de impostos assim como subsídios e isenções, transferências de renda ou subvenções de quaisquer espécies, saem todos de um só lugar: do bolso do contribuinte, que, em condições normais de temperatura e pressão, somos todos nós, os contribuintes dos 94 tributos e outras onerações, que levam quase 04 (quatro) meses para serem liquidados e quase tanto para cumprir os ritos de seu recolhimento aos velozes e vorazes cofres públicos.

Como tudo sempre pode piorar, quando os dados não são organizados para gerar informação, buscam-se os culpados (sic) pelos sintomas das anomalias presumidas: assim, a renovação exagerada da vintenária ou trintenária frota de veículos de transportes de carga – antes saudada por 10 entre 10 analistas pelos efeitos sobre o Custo-Brasil das cadeias produtivas e exportadoras – passou a ser exorcizado ou colocado em xeque, mesmo depois da contenção fiscal de 2015. Ora, se cai o PIB, cai oferta e demanda, o emprego, a renda disponível…porque não cairiam também os fretes?

Para desandar mais ainda o angu, porque não aproveitar para discutir o sistema político, o tamanho do Estado, a necessidade de privatização, a representatividade da sociedade – até os monarquistas ressuscitaram, ao lado das vivandeiras ainda insepultas –, assim mesmo, sem ordem de abordagem, para ser consistente com o clima (e o clímax) de caos iminente?

Assim, nenhuma surpresa que, passados 10 dias, quem era herói se torne algoz; que autoridades culpem empresários; que estes culpem a academia e a imprensa; que esta, culpe todo mundo; e que cada um de todo o mundo não culpe ninguém OU porque ainda espera por um Dom Sebastião OU porque já sabe que sempre irá perder mais um pouco do que tinha.

Feito o rescaldo de tudo, para transformar dado em informação e assim escapar do fundamentalismo que essa distorção enseja entre tudo o que se pode aproveitar desse momento, o que se pode esperar?

Primeiro, sugerir que a disciplina de Finanças Públicas, seja ensinada, senão desde a mais tenra infância, pelo menos como disciplina optativa que seja em cursos como jornalismo (principalmente), relações internacionais, ciência politica, engenharia, além de administração e economia (nesta, exigível para se tirar a diplomação). Só estariam isentos desta posologia, os Contadores, pela natureza de seus conhecimentos e pela clarividência do ancestral do Papa Francisco, Frei Luca Bartolomeo de Pacioli, monge franciscano e matemático italiano!

Assim, seria menos constrangedor ver jornalistas e professores das matérias nominadas, a saudar (e propagar sua satisfação) aos seus ouvintes, ao avaliar a desculpa envergonhada do Ministro da Fazenda que disse (sic) ter sido mal interpretado quando falou de “aumento de impostos” quando na verdade a tecla SAP de todo o mundo deveria ter ouvido outra coisa.

Ah, bom!!!

Os arautos da propagação da desculpa envergonhada, tal como Colombo ao colocar o ovo em pé, ainda reforçaram: “ótimo, assim não haverá aumento de impostos”, mas, só haverá a reoneração de impostos e a compensação tributária de setores que hoje possuem isenções fiscais…

Ahhhh, booommm???

Assim, o Ministro da Fazenda não só tirou a meia sem tirar o sapato como ainda aliou ao aumento de impostos, o custo parafiscal do aumento de preços – que gera maior arrecadação fiscal nominal e real – uma forma degenerada de imposto: ou se acha que as reonerações e compensações fiscais não serão transformadas em aumentos de preços (e assim, de custos e despesas, na economia)?

Por fim (mas não por último), os solavancos desses 10 (dez) dias – cujos espasmos e contrações vão durar o tempo do parto de um elefante –, a informação que se pode decantar de tudo isso pode ajudar a discutir a coerência das propostas dos candidatos aos próximos périplos eleitorais.

Por exemplo: fica claro que tanto ou mais importante que discutir se deve ou não privatizar tal setor, não se deve discutir ABRIR o setor a uma maior concorrência?

Países que buscaram as privatizações o fizeram não apenas para substituir um dono (público) por outro (privado): mas, primeiro, ABRIRAM este setor ao mundo, ou seja, a quem produzisse “melhor” e com maior produtividade; segundo, promoveram a concorrência de verdade, inclusive em setores como a produção de águas e esgoto, saúde, assim como em siderurgia e energia, e daí por diante; terceiro; submeteram os novos donos (sic) a transparência de ganhos e perdas eventuais, via a ação de Agências de fato autônomas (que mais regulavam e cuidavam de metas qualitativas do que calibravam o elevador de preços mais altos ou mais baixos); e ainda (mas não por último), exigiram que trouxessem seus recursos e não que se desse além de mercados e receita, recursos e garantias de demanda por parte do país e de seus cidadãos: afinal, se é para garantir demanda e dar recursos do Poder Concedente e da população, se faria tudo com recursos de origem fiscal direta (se e quando houvesse), o que boa parte dos estruturadores de Concessões e PPP ainda não perceberam no Brasil…

Outra coisa: porque não discutir a correção da Tabela de IR na Fonte? E se permitir que, dada a incapacidade de atender as demandas de saúde e educação, quem recolher IR na fonte, pode descontar o que paga por esses serviços públicos até, no mínimo, os mesmos 27,5% do que paga de IR sobre o salário, cumulativamente? Vão faltar recursos para o Poder Público? Ótimo! Se o que ele recebe gasta mal…Quanto menos ele receber, mais terá de se ajustar “para baixo”….e não “no mesmo nível” ou “para cima”…

Ou isso, ou esses 10 dias não mudarão ou servirão absolutamente para nada…tal como em junho de 2013…e o fundamentalismo no trato das questões nacionais sempre subordinará a informação adequada para se tomarem as medidas que geram efeito ou eficácia.