O célebre Neném Prancha (Antonio Franco de Oliveira, botafoguense falecido em 1976) entre outras pérolas futebolísticas dizia que “pênalti era uma coisa tão importante que, quem devia bater, era o presidente do clube”.

O país parece ter chegado à marca do pênalti: e o clube parece estar sem presidente…

A convivência com um longo ciclo de queda de atividade, de consumo, de poupança e de investimentos, parece ter exaurido as forças do país.

Na falta de estímulos permanentes para mover a economia, notadamente do segundo subciclo de governo, o país conseguiu manter sinais precários de vida, devido a causas fortuitas que não irão se repetir: a repatriação de renda (sic) trazida do exterior; o uso antecipado de poupança institucional de trabalhadores (FGTS e PIS/PASEP); a queima de ativos de raiz (bens móveis e imóveis por parte de empresas e famílias, incluídas as devoluções de imóveis, máquinas e equipamentos, carros e veículos diversos)…

Só dois setores conseguem sobreviver à constrição geral da renda e do produto: o governo e o setor financeiro. O primeiro porque recebe sem gerar renda. E o segundo porque tem no governo o cliente ideal: seus gestores nunca fizeram curso de educação financeira; não praticam (porque desconhecem e os que conhecem têm ojeriza) ao princípio do consumo consciente do crédito; são dependentes químicos de juros; são absolutamente irresponsáveis porque não precisam dar conhecimento ou satisfação a seus acionistas/eleitores embora paguem seus compromissos com o dinheiro desses mesmos acionistas/eleitores; sempre ameaçam com mais impostos os que lhes cobram racionalidade e parcimônia quanto a gastos e endividamento, entre outras anomalias e perversões aqui não registradas.

E, pior, também como acontece com empresas e famílias à beira de um ataque de iliquidez e insolvência, vendem os ativos de toda a ordem (terrenos, ações, partes societárias diversas, empresas e o que for) dos quais são fiéis (?) depositários ou meros prepostos, para cobrir gastos correntes e, agora – como última fronteira – imóveis de toda a ordem, desmobilizando para pagar custos previdenciários de seus regimes próprios de previdência e cobrir passivos contingentes de toda a ordem.

Ou seja, todos (ou quase todos), estão raspando o fundo do tacho, mesmo: até a renda futura (FGTS e PIS/PASEP) entrou na dança da antecipação dos fluxos para salvar o curto prazo, mutilando na raiz um rendimento que não estará mais disponível na data em que seria (talvez) mais necessário.

O movimento paredista (?) recente, no entanto, teve o condão de deixar escancaradas muitas dessas mazelas: principalmente quando o presidente do clube, ou melhor, o governo, enfim, decidiu reconhecer e, pior, resolver (sic) o problema.

Principalmente porque a torcida que não conhecia e não gostava do presidente e apoiou o movimento, começou a estrilar quando “caiu a ficha” e viu que seria ela (a torcida) que iria ter que pagar o movimento.

E não era só o pessoal do clube que fica na geral, que está acostumado a levar no lombo, não: era o pessoal que fica na arquibancada e que fica de bacana nas numeradas e camarotes; além de quem irradia o jogo, faz reportagem de campo, os juízes e bandeirinhas, e o pessoal que assiste pela televisão!

Todo esse pessoal de repente, se olhou no espelho e descobriu quem é que, de fato, mantém o clube!

E o presidente e a sua “entourage”, gasta o dinheiro deles: deles e dos fornecedores todos que também foram chamados para pagar a conta.

E os demais candidatos a presidir o clube? Os que podem ser que tenham que vir a cobrar o pênalti? O que eles têm a dizer sobre isso?

Será que existe um candidato, desses bons de bola mesmo, que entende do negócio, e que – em vez de entrar no rame-rame entre vender ou não vender empresas do clube — tenha a coragem de mostrar outro caminho?

Por exemplo, quebrar a Lei do Monopólio, para criar CONCORRÊNCIA, e permitir que TODA a cadeia de produção-refino-distribuição seja ABERTA para a concorrência de outras empresas, de qualquer parte do mundo? Tendo por foco o interesse de ter energia e seus derivados com o menor preço para o consumidor de todos os produtos gerados por este segmento de petróleo e gás? Ou de qualquer outro segmento onde haja empresas com a participação do clube, ou melhor, do governo?

Só que tem que vir para cá, produzir aqui, gerar pesquisa, tecnologia, investimento, produção e emprego AQUI?

E as outras atividades do Clube que não estão organizadas em empresas? Prestam serviços de balcão, de guichê, no varejinho, por exemplo?

A Escolinha de Futebol, o pessoal que trata da saúde e da fisioterapia, da moradia, da segurança do clube, ou melhor, do país?
Será que eles fazem o que deveriam fazer da melhor forma? Aos menores custos e despesas? E levam aos associados o serviço que prometem entregar?

O que é corporativo (escritórios, regulação, back office) é feito da mesma forma há quantas décadas? As últimas racionalizações e planejamento de atividades foram feitos há mais de 50 anos!

Quanto desse serviço mais homogêneo, repetitivo e de baixo valor agregado não deveria estar disponível via smartphones ou via Internet nos centros de inclusão digital e acessível via os endereços de e-mail de quaisquer associados, ou melhor, contribuintes? Inclusive com a reciclagem e retreinamento das pessoas que realizam um trabalho pastoso e sem nenhum interesse e baixíssima produtividade?

Nos departamentos em que o próprio Clube tem a atribuição estatutária (ou da Constituição) para prover – mas admite que privados exerçam a titularidade complementar – porque não estender a titularidade progressiva e definitivamente aos privados, passando o Clube (Estado) a apenas fazer a Regulação e o Controle das atividades? Permitindo o compartilhamento dos ativos operacionais dos privados ao invés de dispender diretamente os gastos de capital (CAPEX) quando ele mal consegue arcar com os custos de operações (OPEX)?

Qual dos candidatos a presidente do Clube vai ter coragem de mexer nas ANUIDADES do Clube e no PREÇO dos ingressos? Vale dizer, na politica TRIBUTÁRIA e na POLÍTICA FISCAL? Porque são duas coisas completamente diferentes (embora uma complemente e seja feita em razão da outra)!

Por exemplo: está acontecendo com o preço do frete o que aconteceu com os preços das tarifas de transporte público (ambos, aliás, e não por acaso, estão na raiz da crise de 2013, via os R$ 0,20 das passagens de ônibus e agora no preço dos combustíveis que formam o preço dos fretes, em 2018).

Não se deve fazer politica distributivista através de preços: ora, oferecer gratuidades ou diferenciar preços se faz via a politica de tributação direta, de quem produz e gera produto e renda, através de escolhas debatidas na sociedade e, portanto, previstas nos orçamentos e fiscal (LDO e LOA) e seus anexos de metas e riscos fiscais.

Preço sempre deve remunerar investimentos e custear operações: em qualquer setor, em qualquer atividade (da laboral à empresarial e em todos os seus múltiplos e complexos espectros). Transferências de renda, só via a tributação DIRETA.

Caso contrário, como agora, o que se faz para um segmento, emergencialmente, se terá que conceder para outro, sequencialmente, até que todos reclamem o mesmo diferencial aleatoriamente, e se chegue à exaustão do mecanismo e à consequente desagregação de preços e das relações sociais.

Aí…nem a sabedoria do Neném Prancha resolve…