Segundo o Painel de Empresas do SEBRAE (11/03/2020), há 19,2 milhões de empresas na economia brasileira (9,8 milhões de MEI, 6,6 milhões de ME, cerca de 900 mil EPP e outras 1,9 milhão de Médias e Grandes empresas).

Este segmento ainda sobrevive à extração de seus excedentes por uma elevada carga tributária e por altos juros pagos pelo uso de recursos de terceiros no seu ciclo operacional: em ambos os casos, em níveis muito acima, quer da produtividade média da economia e das taxas internas de retorno de suas operações.

Não obstante, tais segmentos também são afetados pela pandemia.

Ao lado dos esforços do governo para compensar as perdas dessa situação (inclusive o amplo espectro dos setores que sobrevivem sob o manto da informalidade de toda a ordem), chama a atenção o montante de recursos mobilizados via o sistema financeiro.

Ou seja, algo como R$ 1,0 trilhão, ou cerca de 14 % do PIB no ano de 2019 (R$ 7,3 trilhões).

Ora, num momento onde a economia se retrai (pois, pelo menos 50% dos consumidores estão em isolamento e boa parte dos que vivem de salários tiveram seus rendimentos ou extintos (por dispensa ou “lay-off”), ou reduzidos (em 1/3, por negociação direta, ou por férias antecipadas ou por troca pela manutenção de benefícios), ou contingenciados para gastos estritamente necessários –, como consistir as necessidades de caixa operacional (EBITDA) com o fluxo de obrigações (pós EBITDA)?

Na indústria, a situação se parece com a que se vivida nos finais de ano (anos 90 do século XX), quando, para se precaverem da inflação, empresas aceleravam a produção e formavam estoques de pelo menos 1/5, 1/3 ao até metade da sua produção média.

Para a economia, a “variação de estoques” ajudava a prover crescimento; para as empresas, desovar estoque a preços mais altos (porém, produzidos a custos e despesas mais baixas), era uma estratégia para manter ou expandir o “mark-up”, notadamente nos setores mais oligopolizados.

E, para o consumidor final – lá tal como agora – a certeza de que o atendimento do consumo se faria a preços mais altos (que seria amortecido pela ilusão de seus ganhos, dado a inflação); e pela oferta de crédito a preços reais elevados que “cabiam” em seus salários.

Só que o ambiente era de consumo crescente: na pandemia, o “gap” de tempo é maior. Ainda assim, como sempre repetido em São Paulo e em outros pontos do país, a indústria mantém entre 50% a 70% das suas atividades: mas, produzem para quem ?

Agora, a um prazo maior de “gap”, os tais R$ 1 trilhão (via maior liquidez dos compulsórios e outras distensões do reguladíssimo sistema financeiro), servirão para que as empresas “tomem crédito” (se endividem, portanto) para não ficar no vermelho de uma situação em que todos sabem quando começou (primeiro decêndio de março), mas, ninguém ainda pode dizer quando (e se) vai terminar…

Tudo o mais constante…o ideal seria NÃO TOMAR CRÉDITO para bancar, indiretamente, o que caberia ao governo fazer via estrita expansão dos gastos fiscais (e mesmo monetários) em situação atípica de risco, equivalente a uma guerra ou catástrofe ambiental.

O setor financeiro, de imediato, ponderou e o governo consentiu (sic) em bancar até 85 % do eventual “default” dos tomadores finais em caso de agudização da liquidez e da solvência: via expansão de gastos fiscais (via endividamento de todos, por certo).

Para o “tomador”, mais dívida requer MAIS PRAZO e MENORES TAXAS: mas, há quem até faça o marketing que – desde que em dia – pode-se rolar as obrigações “às taxas originalmente tomadas”…mas, se fosse “hoje”…que taxas seriam adequadas?

Semanas após as medidas…volta o carcomido refrão que “não basta levar o gado ao rio se o gado não está com sede…”

Falando sério: custa a crer que ninguém tenha lido o PRIMEIRO Relatório Anual do BANCO CENTRAL DO BRASIL; uma aula de condução de politica de banco central ortodoxo (ainda não vilipendiado pelo financismo estéril que faria corar Irving Fischer e a que Bernanke & Greenspan fizeram vistas grossas).

Melhor seria se o BACEN, que (ainda) prefere rejeitar a criação da Moeda (M1) ao endividamento primário líquido – emissão que depois seria apartada do seu balanço como o Orçamento Fiscal terá segregado da sua execução a expansão extra limite da pandemia, no tal Orçamento de Guerra – executasse as funções primárias do REDESCONTO BANCÁRIO mais tradicional: aquele onde os bancos (pelo menos) drenam os recursos liberados via redesconto (e só cobrando 1% a 2% de toda a operação: e que aí se incluíssem as Fintechs e as ESC). Pode-se, aliás, criar um Fundo Geral de Recebíveis), que compraria e faria a gestão eletrônica dos recebíveis indicados pelos bancos, de modo a fazer com que no balanço das empresas os recursos tomados fossem antecipações do Contas a Receber, sem ocupação de seus limites de crédito.

Mas, por que isso?

Porque, os bancos, de um lado sempre culpam (sic) as altas taxas de juros pelo elevado nível de inadimplência, como culpam (sic) os impostos pela cunha fiscal que engessa quedas de taxas: ora, os impostos são pagos pelos tomadores e recolhidos pelos bancos…está precificado nas taxas. Ademais, a inadimplência é culpada (sic) há mais de 30 anos pela higidez das taxas: será que em 30 anos os bancos AINDA NÃO aprenderam a originar créditos junto a bons tomadores?

Assim, essa elevadíssima monta de recursos seria usada apenas para DESCONTAR papéis de créditos (da produção ou dos serviços e do comércio), com lastro em legítimos efeitos comerciais e mercantis, representativos de créditos performados e a performar em prazos equivalentes a 24, 36, 48 ou até 60 meses.

E por serem RECEBÍVEIS – já emitidos ou a emitir – NÃO GERAM DÍVIDAS aos seus emissores; se no vencimento não houver liquidez, SUBSTITUEM-SE por outros créditos equivalentes. O governo não precisará BANCAR 85% da devolução já que existirá lastro tangível (em bens ou unidades de serviços ou mercadorias) na emissão de papéis (além dos SACADOS que lhes confirmam a origem e o destino).