Com a benvinda e aprovação do Marco Regulatório de Saneamento de Águas e Esgoto (A&E), destacou-se o perfil marcante da oferta de infraestrutura no país: a elevada escala de demanda reprimida por bens e serviços cuja universalização é há muito tempo provida nos países mais desenvolvidos.

Mas, além da oferta de A&E, a oferta de energia (na forma de energia limpa da hidroeletricidade, dos ventos ou do sol), ou derivada do gás natural; assim como acesso a dados e imagem, que custou muito caro na hora em que boa parte do ensino precisou seguir normas de isolamento e as aulas via EAD não tinham como chegar a todos os pontos do território nacional (embora haja quase uma relação de mais de 2:1 na oferta de serviços de voz na telefonia); o acesso à saúde e atenção primária e à alta e média complexidade (embora, desde 1988, tenha sido um dos maiores e mais bem articulados Sistemas de Saúde Pública de todo o mundo)…

Enfim, em todos os quadrantes e modalidades, há um elevado grau de DEMANDA REPRIMIDA, capaz de exprimir alta atratividade para taxas internas de retorno dos investimentos que se possa vir a fazer nessas áreas, sem contar com as suas intensas e recíprocas elasticidades cruzadas de economias e externalidades que alavancariam sobremaneira o PIB nacional e as consequentes medidas de bem- estar delas derivadas, (como o maior IDH da população).

Ou seja, o atendimento dessas demandas, gera um campo potencial para a atração de capitais de toda a ordem (públicos, privados nacionais e privados estrangeiros), já que de há muito se sabe que o capital de investimento de longo prazo sempre procura possibilidades de alocação, que tenha lastro na formação de ativos tangíveis (como o são os ativos de CAPEX formados nesses segmentos de atividade de infraestrutura) e a retornos positivos pelo atendimento direto (via tarifas) ou indiretos (vias os pagamentos indiretos pelo usos do próprio Poder Concedente) e altíssima liquidez, eis que estarão atendendo à DEMANDA REPRIMIDA por bens que possuem alta essencialidade e que serão pagos concomitantemente à sua utilização intensa e imediata em vários pontos de “venda” desses mesmos bens e serviços de utilidade pública.

Os volumes de recursos necessários são como é claro, bastante elevados.

Mas, não é só isso!

Há uma segunda característica da oferta já existente que precisa ser destacada (ainda que precária e a requerer expansões ou mesmo a formação de ativos green field, diferentemente do que ocorre na maior parte dos países desenvolvidos onde a oferta desses bens ao se mostrar necessária, se faz mediante ganhos de inovações em processos, ganhos de produtividade e de expansão na “margem,” de ativos de há muito consolidados, ou “brown field”).

Na oferta de praticamente todas essas atividades de infraestrutura, a geração de RECEITAS BRUTAS do Operador desses ativos, representa, na média, 20% dela o consumo de 80% de seus consumidores individuais (pessoas, famílias ou o que se convencionou chamar de consumo pessoal ou residencial).

E 80% dela representa o consumo de 20% de seus consumidores empresariais (empresas, unidades empresariais da indústria, do comércio e da prestação de serviços em grandes áreas (como shoppings, centros de distribuição e data centers), de outros grandes consumidores de bens e serviços de utilidade pública (como as geradoras de A&E que são os maiores consumidores individuais de energia), unidades produtivas no campo, no agronegócio e dai por diante).

Embora o consumo individual não tenha sido integralmente provido ao longo do tempo, os requerimentos localizacionais para a oferta da produção de alguns segmentos como as indústrias de alumínio, cimento, química e petroquímica, bebidas (cervejas notadamente) e refrigerantes, alimentos, têxtil – mas sem esquecer os shoppings, centros de TIC de instituições financeiras, data centers e outras grandes plataformas de produção ou da prestação de serviços de maior densidade tecnológica, SEMPRE requereram a oferta de energia, A&E, gás, oferta de voz (e depois) de imagem e dados (entre outras utilities), e NÃO RARAMENTE a custos por unidade de consumo MENORES do que aqueles oferecidos ao provimento do consumo individual.

Isto porque a DEMANDA desses bens e serviços é um CAMINHO CRÍTICO para oferta dos produtos e serviços oferecidos pelos produtores de bens e serviços finais para consumo interno e externo do país.

Assim, há uma assimetria interessante a se considerar o APETITE em operar ativos como a A&E, EXCLUSIVAMENTE para consumidores finais e individuais onde – perversamente – (mas ao contrario do que ocorre nos segmentos onde esses produtos e serviços são INSUMOS PRODUTIVOS) – a demanda por esses mesmos bens é de ALTA ESSENCIALIDADE humana.

Mas, há ainda um TERCEIRO TRAÇO muito interessante a considerar.

Em TODOS esses segmentos, há elevadas PERDAS a serem recuperadas em seus ciclos de produção e oferta: desde a captação de seus insumos (como as águas, por exemplo) assim como DURANTE os ciclos intermediário e final de produção e distribuição do que é gerado (em águas e esgoto, geração, transmissão e distribuição de emergia e gás), assim como – EM TODOS ELES – até nos sistemas (?) de coleta, tarifação e liquidação na ponta final do consumo.

Em pleno século XXI, as empresas de utilities ainda cobram como as revendedoras de produtos Avon ou Tupperware: de porta em porta…

Assim, sendo as atividades de Concessão marcantemente importantes TANTO por seus efeitos MICROECONÔMICOS (que poucos atentam) quanto por seus decantados fetiches MACROECONÔMICOS (que todos supõem entender), a RECUPERAÇÂO DE PERDAS nesses processos é RECEITA POTENCIAL: e, em muitos casos, faz cair até à metade, o volume final dos recursos a serem demandados para os OPERADORES (que são os legítimos players) das Concessões e PPP, realizarem o trabalho que pode recolocar o país para fora da Idade Média na oferta universal de VÁRIOS de seus ativos de interesse social, de uma vez por todas!