Bons ventos aqueles que sopraram, quando o medo e a cautela criaram nas pessoas a esperança que as levaria a buscar o que passou a se chamar de “Novo Normal”.

Bons ventos também os que sopraram para sinalizar que, em tempo recorde, não apenas uma – mas várias vacinas – poderiam abreviar a incerteza quanto ao prazo de superação das dificuldades: até as Bolsas de Valores vêm antecipando os efeitos que essas boas notícias podem trazer já a partir de 2021!

De repente, porém, a expectativa das pessoas traz a Valor Presente (VP), uma realidade que ainda não se consolidou e, além de jogar às favas os cuidados preventivos, joga para cima o que se poderia antecipar como “Novo Normal”. E, pior, a andar para trás, na mudança de paradigmas e posturas.

Dois exemplos são eloquentes:

As atribulações da pandemia fecharam um grande número de instituições de ensino privado, do chamado maternal até os demais níveis, desempregando professores e funcionários da linha de frente e da retaguarda (OPEX 01). Fora isso, o movimento desocupou o CAPEX (ativos reais) que eram alugados para uso do setor, sem contar o efeito indireto da queda da demanda por insumos e fornecimentos de toda a ordem (OPEX 02) que eram usadas por essas instituições.

Perderam-se, pois, no campo microeconômico, salários, aluguéis (OPEX 01 e OPEX 02), lucros e juros (remuneração do investimento e do capital, respectivamente, ou a renda do CAPEX, envolvido nessas operações). Por extensão, os tributos incidentes sobre esses fluxos individuais de renda, perderam-se para sempre.

Somado a isso, a redução nominal de fluxos de OPEX 01 e OPEX 02, nas atividades mantidas por enquanto, conforme os limites e as alternativas abertas pela ação anticíclica do Governo (redução de até 70% dos salários, diferimento de encargos sociais e financiamento para quem teve acesso aos bancos e às linhas de crédito criadas para esse fim, que também adiam o seu ressarcimento, na esperada redenção dos efeitos mais perversos de curto prazo causados pela pandemia).

O efeito já previsível: a Rede Pública deverá receber um aumento significativo de demanda por matrículas de alunos egressos da Rede Privada – tal como o SUS já recebeu um acréscimo maior de demanda dos que foram desempregados ou dos que não conseguem mais pagar os seus Planos de Saúde.

Ora, a volta às aulas na Rede Pública – de todo temerária para este ano letivo e isto só não vê quem não quer –, demandará espaçamento entre carteiras (mesmo no ano que vem), distanciamento nas atividades curriculares, e daí por diante.

Poucas são as salas de aula com menos de 20 ou 30 alunos na rede estadual e municipal: a realidade física mal comporta os alunos atuais. E com os egressos da Rede Privada?

A Rede Pública terá que fazer mais CAPEX para atender a todos que tem este direito previsto na Constituição?

Na identidade microeconômica antes definida há flagrante ociosidade, por que há o desemprego de fatores de produção demandados para a oferta de conhecimento: de profissionais da linha de frente e da retaguarda, às áreas liberadas para ensino em m2, de demandas secundárias de fornecimento de insumos de toda a ordem…ou seja, um ciclo econômico virtuoso onde o Setor Público poderia pagar pelo uso do CAPEX ocioso do setor privado, reempregar provisoriamente o contingente de professores e funcionários de áreas meio e com isso irrigar a cadeia de fornecimento de bens antecedentes e consequentes do ensino.

E, indiretamente, com a retomada dos salários, aluguéis e dos pagamentos a fornecedores, irrigar a economia periférica a esse importante cluster: inclusive a preços mais baixos do que aqueles vigentes ANTES da pandemia, eis que – a contrário senso – a ociosidade se tornará crônica para todos aqueles envolvidos nessa cadeia ou ciclo de produção.

Outro exemplo: com todas as dificuldades e distorções – até de ordem ética e moral como a apropriação privada indébita de recursos destinados à atender a uma ajuda de caráter público e humanitário – depois de dois meses de ajuda para quase 44% da população ou o equivalente a R$ 254 bilhões injetados na economia –, aumentou a demanda de varejo de materiais de construção.

O resultado dessa miríade de pequenas compras atomizadas e espalhadas regionalmente, fez com que o preço de alguns itens como o cimento, experimentasse uma pressão altista de preços.

Enquanto o fenômeno atingia só os atomizados consumidores das periferias, tudo bem (sic)!

Mas, agora, até os empresários da Construção Civil estão se dando conta da pressão especulativa: o efeito álcool em gel e de EPI, já conhecidos.

Os produtores de cimento, ávidos pela proverbial ganância – a mesma dos comerciantes e lojistas e donos de bares e restaurantes que também foram igualmente fraturados pelos efeitos da pandemia – pensaram com as Velhas Cabeças: “é preferível pegar R$ 100 reais, com preços ACIMA e antes da pandemia, agora, do que R$ 10 reais por mês, durante 10 meses”.

E depois: vão viver do quê? Vão tirar o dinheirinho de quem?

Não se percebe além dos narizes que uma crise como essa NÃO É UMA CRISE DE OFERTA: é uma CRISE DE DEMANDA (de indivíduos ou do mercado entre fornecedores e seus compradores finais na matriz interindustrial ou na cadeia logística e de comercialização).

O TEMPO – o mesmo tempo que é crucial para gerar as vacinas – precisa ser arrastado, multiplexado, espichado – para transformar em permanentes os efeitos fortuitos de curto prazo que continuam latentes no que ainda está vivo e respirando na economia.

Caso contrário, com essas Velhas Cabeças e com uma política de governo que disso também não se apercebe ao definir ajudas e politicas de enfrentamento da crise…o “Novo Normal” está cada vez mais rançoso e parecido com o putrefato Velho Normal que querem manter insepulto a qualquer custo!