Quanto mais o final de ano se aproxima, duas expectativas parecem ser irrecorríveis: a do desejo natural que o ano acabe logo (como se a virada do ano sublimasse o ano ruim) e a insegurança sobre “o ano que vai chegar”.

Esta última – se analisada sob a forma de uma expectativa racional –, pode despertar muito mais ansiedade do que a primeira: afinal, há o risco de a pandemia continuar (como “segunda onda” para aqueles que começaram a vivê-la há quase um ano atrás) e como um repique perverso, para aqueles que ainda não conseguiram abatê-la totalmente.

Como se já não fosse o bastante, no Brasil há a pendência da provação do Orçamento; os resultados das eleições municipais e seus efeitos sobre a correlação de forças que já se aglutinam para o cenário eleitoral de 2024; as tensões sociais excitadas pelas desigualdades crescentes e inevitáveis se não houver a prorrogação dos auxílios emergenciais e a discutida retomada em formato de “V”; e, tanto ou mais importante, a percepção difusa do entendimento da realidade que parece prevalecer – esta em formato de “X” – entre os diferentes estamentos da sociedade…

Como todos esses fatores, juntos e misturados, postergam a inação frente a um futuro que está a acontecer nos próximos 45 dias…só para argumentar, quais poderiam ser a ações a serem tomadas para sinalizar para os agentes econômicos e sociais, o que se poderia fazer caso (espera-se)o feliz ano novo, apresente uma nova “tendência preguiçosa”, de repetir a situação ainda presente no país.

Abstraindo do que já foi feito antes, imagine-se um cenário em que outra área do governo seja chamada para apresentar uma solução alternativa para o mesmo estado de coisas já conhecido: Banco Central, por exemplo.

O BACEN (como é conhecido) apresentaria como solução, emitir R$ 1,5 trilhão em papel moeda, uma vez que se admite que as alternativas de ajuste fiscal, afora não serem de competência funcional, estão meio que “travadas” na órbita de competência do Ministério da Economia: seja porque não há consenso sobre criar ou não um novo/velho imposto (agora) sobre as transações digitais; seja porque “furar” ou “mudar” o teto de gasto pode se apresentar com uma alternativa que implica em jogo de poder; seja porque medidas como as privatizações ou reformas possuem largo prazo de maturação…

O BACEN apresentaria diretamente essa solução desdobrada em duas frentes: uma para (re)alavancar as atividades econômicas do setor privado, que tenderiam novamente a ser contraídas – e por outros caminhos que não os bancos, que já estariam gerindo o estoque do que foi feito pelos meios definidos anteriormente – e, a outra, para criar uma nova alternativa para os entes federados (que também estariam em processo de maturação das tratativas anteriormente tomadas para compensar a queda de seus receitas correntes líquidas e, portanto, estreitando sua capacidade de investimento.

O primeiro trilhão, seria entronizado na economia, conforme sintetizado no fluxo a seguir.

Nesse fluxo estão as atividades do lado real e com o agentes privados da economia.

A emissão (que não tenderia a ter efeitos deletérios sobre a inflação mercê da ociosidade na capacidade de produção e no arrefecimento da atividade econômica, seria destinada a comprar COTAS de um FUNDO (sua fonte passiva) que carregaria em seu Contas a Receber (fonte passiva) recebíveis de toda a ordem que fossem lastreadas em legítimos efeitos comerciais, como o são a emissão de duplicatas mercantis ou de serviços, performadas ou a performar, além dos tickets emitidos pelas “maquininhas“ de venda de produtos e serviços de todos os tipos porte de empresas (aí admitidas também as operações do tipo COMPROR e VENDOR existentes entre empresas de maior porte relativo.

No outro fluxo, as atividades previstas de outra parcela da emissão (R$ 0,5 trilhão) com os entes públicos da economia, apenas para alavancar as suas atividades de investimento.

Neste outro fluxo, o BACEN compraria pelo mesmo mecanismo, parcela da sua dívida interna – que deve chegar ao final do ano a quase 100% (ou mais) do PIB Nacional, abrindo margem para um novo ciclo de endividamento – calcado apenas na formação de ativos nas áreas prioritárias de ação do governo, e abrindo condições de refinanciar os saldos da LRF dos estados, munícipios e o distrito federal, em eventuais necessidades adicionais resultantes de novo processo de atrofiamento da economia.

Em ambos aos casos, o efeito esperado é o de propiciar uma reação anticíclica para um eventual novo período de atrofiamento da atividade econômica, uma vez que os efeitos sobre os principais agregados macroeconômicos já estão muito próximos de seus limites de esgarçamento.