No dia 15 de Novembro de 2.022, segundo a ONU, o mundo atingirá um total de 8 bilhões de habitantes: e o PIB mundial, chegará, pela primeira vez, a cerca de US$ 100 trilhões.

Ainda que somente o PIB não meça sozinho o total do que se poderia chamar da “Riqueza das Nações” , numa simplificação grosseira se poderia dizer que cada habitante do planeta teria uma renda per capita disponível da ordem de US$ 12.500 (ou algo como R$ 5,5 mil reais ao mês, durante um ano, no caso da moeda brasileira, ao câmbio atual).

No Brasil, sem contar os penduricalhos do Setor Público e os prêmios de performance, o rendimento não tributado dos dividendos, do lucro presumido, dos ganhos dos “pejotas” e de outras tantas mandracarias existentes para fugir do desconto na fonte dos salários dos “celetistas” do Setor Privado, um salário mensal da ordem de R$ 50 mil é um destes números mágicos que se podem tomar como referência para “medir” grandezas absolutas ou relativas na economia.

Assim, a diferença entre o maior e o menor rendimento médio da economia – o cabalístico R$ 50 mil mês dos grandes salários privados e do teto de rendimentos diretos dos salários públicos, vis-à-vis ao valor de pouco mais de R$ 1,0 mil de referência para o ganho médio mínimo para o trabalho não especializado e o valor do BPC da previdência pública – estaria por volta de apenas (sic) 50 vezes!

Entre a base e o topo da pirâmide, se o valor do ganho mínimo fosse da ordem de R$ 5,0 mil – o valor resultante da renda que vem da divisão do PIB anual pelo total da população mundial visto acima, a diferença cairia para apenas (sic) 10 vezes (mantidos os penduricalhos e pegadinhas fiscais elisivas para os detentores desses “direitos adquiridos” em um e outro segmento).

Daí vem o “paradoxo da desigualdade absoluta”, PDA, que o aprofundamento das desigualdades econômicas e sociais acaba por imputar às sociedades quase ao fim deste primeiro quarto de século, que já chegou a ser saudado como a Nova Era da Luz, do Conhecimento e da Inovação.

Quanto mais desigual, maior é o valor necessário para mitigar a desigualdade: e, por extensão, maior é a contribuição a ser exigida das fontes primárias de geração de riqueza, para gerar políticas de transferência ou da “manutenção assistida da desigualdade”.

Sim, porque para “erradicar integrando” a vasta multidão de desiguais, OU bem se gera o montante necessário para equalizar a renda necessária de uma única e definitiva vez, OU bem se criam mecanismos para transferir de “um para o outro canto da equação da desigualdade”, o montante de recursos necessário para melhor equilibrar esta identidade relacional a looonggo prazo…

Ou seja, mexer no “denominador” da relação da renda per capita ou mexer no “numerador” da relação da renda per capita?

Malthusianamente, pode-se torcer por mais pandemias, guerras ou choques climáticos para resolver esse dilema socioeconômico e moral (…). Ou, por maior participação estatal pelo lado da política fiscal – e aí o amplo espectro liberal parece se mostrar anacrônico (excetuando-se o neologismo “liberal com visão social”) – e maior intervenção do Estado no domínio político. E em doses tão maiores quanto mais desigual for a “boca de jacaré” derivada dos índices de desigualdade tradicionalmente adotados como réguas de medida dessas assincronias.

Não é outro, por acaso, o reflexo já sentido de forma emergente nos últimos 10 a 15 anos, com rompantes de “volta ao passado” e de escalada tanto do autoritarismo quanto do desenvolvimentismo social e de Estado nos quatro cantos do mundo.

E num contexto de lideranças em boa parte sem quaisquer preocupações morais e existenciais maiores do que aquelas que é possível derivar de sua própria vontade de manter intacto o atual estado de desigualdades, pode-se antever um período de grandes dificuldades para o bem-estar e o desenvolvimento das sociedades modernas.

Tanto pior porque o MAIOR QUADRO DE DESIGUALDADES está, justamente, do lado dos países emergentes ou de menor grau de desenvolvimento, onde o grau de informação, de conhecimento, de educação, de concertação – como reflexo de séculos de parasitismo das elites econômicas e pensantes em manter privilégios anacrônicos para o desenvolvimento como a escravidão, a repressão do atendimento de demandas sociais básicas como saúde, a educação e a alimentação e bem-estar mínimos e de cidadania rudimentares – tornou ENORMES a escala física e a manutenção de um perfil de desenvolvimento centrado em velhas escolhas nos campos da industrialização e da exploração da economia primária e extrativista que ainda não acordou para os novos desafios do últimos anos do século XX: o que dizer, então, dos novos ditames que a nova economia já reclama desde o início deste século XXI.

Nunca houve a passagem das economias dos seus estágios de 1.0 para 2.0, de 3.0 para 4.0 e assim como não haverá daqui para diante para os outros “zero qualquer coisa”, se não houver mudanças na matriz de energia e nas relações de capital e trabalho (assim como em suas formas de financiamento): e aí estão as oportunidades para o crescimento de novos clusters e arranjos setoriais e regionais de renda e produto. E não na volta ao mesmo padrão de industrialização vencedor nos anos 50 e 70 do século passado.

E isto tem sido deixado de lado em economias como a brasileira, onde a SOCIEDADE CIVIL renunciou à sua maior responsabilidade: planejar e criar um cenário futuro do que deseja para os que lhe serão descendentes.

Por falta de visão e pelo apego a velhas discussões como liberalismo e intervencionismo e outras tolices mais, aprofundam-se as desigualdades e as distorções que nenhum sistema de ideias ou conceitos será capaz de superar.

Profissionais que já nascem póstumos reivindicando louros por trunfos que mal conseguiram resolver, confundido reformas com mudanças, completam, o quadro de arritmias que torna essa dura passagem ainda mais pesada e difícil.

Em países como Brasil, a estreiteza de visão criou os NOVOS ESCRAVOS: os escravos de um sistema anacrônico que serão mantidos por caridade disfarçada e por programas assistencialistas ou de complementação de rendas, independentes de sua raça, gênero e graus de escolaridade.