Diz a lenda, que o granjeiro de uma região foi alertado que, durante a noite, várias de suas poedeiras saíam dos seus poleiros e acabavam por botar ovos em outros lugares que não em sua planta avícola.

Após consultar especialistas, acabou por desenvolver um algoritmo que em menos de 06 (seis) meses, levou a evasão de ovos à ZERO!

Durante o tempo em que se dedicou ao que era acessório e residual e não ao que era necessário e fundamental, a produção desandou, caiu a produtividade, não se cuidou da manutenção do que era CAPEX e da gestão do que era OPEX (afora, que, diz a lenda), suas operárias entraram em depressão…

A causa mortis foi a falência múltipla do ganho ou do Retorno sobre os Investimentos (ROI), ou o retorno (ganho) sobre o investimento realizado.

No lado real da economia (empresas e famílias) o RETORNO é um dado objetivo, gerado e obtido pela conjugação dos meios e processos tangíveis colocados à disposição dos donos dos assim chamados fatores de produção (terra, tecnologia, capital e mesmo do trabalho como insumo ou como meio para os ganhos de renda do trabalhador). A este lado tangível sobrevém o que se chama “riscos exógenos” à formação da produção daí resultante (conjuntura global, mudanças tecnológicas, variações de quaisquer preços relativos e daí por diante).

No lado financeiro da economia, os juros de referência são fixados por meios da política monetária conduzida por um banco central com autonomia ou não de operação e não envolvem a articulação dos mesmos meios ou processos tangíveis dos agentes econômicos que estão no LADO REAL da economia: o ponto comum é que os riscos exógenos que estão fora do ambiente tangível para aqueles, fazem parte do ambiente endógeno de operação de quem está do lado monetário da economia.

Assim, em tese, o RETORNO de quem vive da atividade produtiva tenderia a ser muito maior do que o RETORNO de quem vive da atividade monetária, já que quem gera RETORNO do lado real está sujeito à duas realidades (uma tangível e outra monetária) eis que, como diz outra lenda, quanto maior o risco, maior o retorno. Já o lado monetário não se confronta com a realidade tangível, senão como um dado exógeno, para ela.

Isso tudo vem à tona no contexto de que há quase 90 dias prevalece no noticiário, a questão dos juros e sobre a autonomia do banco central, no momento em que uma economia que (apesar dos percalços internos e externos) vai “se virando nos trinta”, mas tem inúmeras demandas reprimidas do ponto de vista social e econômico a serem resolvidas: entre elas, uma das mais importantes é a retomada dos investimentos públicos e privados, que não pode continuar a ser menosprezada.

Se a discussão de juros e de sua calibragem passa pelo mesmo dilema de certa forma implícito na Lenda da Granja inicialmente descrita – ou seja, quem nasceu antes, o ovo ou a galinha – ou ainda, só se terá juros mais baixos se houver certeza que os credores da dívida realizarão seu ROI e não verão seus ganhos virar uma omelete; e aí haverá condições concretas de se baixar os juros e realizar os investimentos estruturantes reprimidos – como superar essa encruzilhada se a variável condicionante dessa equação é a retomada da economia: E, esta, depende de que haja condições objetivas para que o lado real da economia também tenha expectativas de ter seu ROI recuperado!

Vem daí a pergunta que não quer calar:

“Daria” para que o Governo Federal e os Agentes Econômicos organizados – em paralelo ao que está sendo discutido em relação aos juros – também percebam que há uma série de ações de política econômica que DEVEM E PODEM ser articuladas para direta e indiretamente, aumentar a expectativa de retorno (ROI) de quem produz algo de tangível na economia – de ovos a todo o resto ?

O que pode ser feito no resto de todos nos outros e pelos outros ministérios finalísticos (indústria, ciência e tecnologia, cluster agrícola, entre outros) e nos ministérios de suporte operacional (todos os da área de infraestrutura,, como energia, transporte e mobilidade, por exemplo) e nos ministérios sociais (educação, saúde, e habitação) para que o ROI das atividades privadas, sociais e individuais seja AFINAL RESGATADA E RECUPERADA, neste longo hiato que vem desde a segunda metade de 2013?

Ou não se vai mais sair da falsa armadilha de discutir juros?

A Grande Cruzada da sociedade é a INCLUSÂO em todos os seus sentidos, matizes e espectros de atividade (aqui e mesmo no resto do mundo, embora no Brasil a desigualdade esteja já chegando às raias da irresponsabilidade: afinal, o custo de capital para uma equalização meramente aritmética é cada vez mais inalcançável).

Cadê, nestes quase 100 dias de novas gestões – na área federal e nos estratos subnacionais onde houve mudança de gestão – o que se está fazendo (ou se irá fazer) para discutir o que não seja apenas acessórios (por mais relevante que seja no curtíssimo prazo, como nessa questão dos juros, no âmbito federal, e das enchentes ou greves, nos âmbito estadual)???

O que se fará para atuar sobre as componentes que geram a obtenção do ROI de pessoas, empresas e instituições ser recuperado para iniciar um novo ciclo virtuoso para sociedade brasileira?

BLOGCONPPP
Saulo Krichanã Rodrigues
SP. 26/03/2023