Falta dizer uma coisa importantíssima sobre o ano de 2015: se o ajuste da economia vingar, vingará para que?

Como normalmente acontece quando se antecipam expectativas – e quando não há afinal tanta margem de manobra assim para se promoverem ajustes e reequilíbrios – é possível que boa parte dos esforços esperados pela nova (?) politica econômica acabe por ter efeito praticamente nenhum sobre tudo o que de fato importa para os agentes econômicos em 2015.

Fazer uma política fiscal cosmética, nas fimbrias do que se pode alterar de tributos e taxas sem passar pelas casas legislativas (aumentando os IOF do crédito e sobre os recursos externos ou ressuscitando a CIDE) ou taxar produtos tidos como de consumo supérfluo ou de consumo politicamente nefasto (como produtos de beleza ou cigarros e bebidas, importadas ou não), acolitada por uma politica de correção de preços em áreas como energia e gás, através de tarifaços graduais ou escalonados conforme ditam os marqueteiros que (infelizmente) ainda não foram afastados dos salões palacianos, convenhamos, é muito mais do mesmo e muito aquém do que se poderia esperar para quem pretende um choque de credibilidade na economia…

Quando o sempre insondável e ubíquo “mercado” se reúne para ouvir de um determinado setor ou empresa muito mais a fala do seu diretor financeiro do que a “sacada” do empreendedor, a inovação da área de tecnologia, a estratégia comercial ou o aumento da produtividade do diretor operacional…está na hora de vender os papéis da empresa e fazer ou como os rentistas-parasitários ou escrever livros de auto ajuda.

Se der certo, teremos o mesmo pibinho (se PIB houver) com uma inflação dentro da meta (?) fixada pela mesma equipe que está executando (sic) as metas (?), numa causação circular cumulativa e redundante: chinfrim, né? Como diria certo bardo, “muito barulho por nada…”

Com uma SELIC albanesa prá lá de indecente, e sem sinalizações menos vagas que não seja a “intenção” pretérita de que investidores acostumados à até aqui inesgotável Bolsa BNDES procurem o mercado de capitais e desentesourem maior parcela de seus recursos próprios, para investir no que quiserem – até em projetos de longo prazo, se tiverem coragem – sem mais recorrer à úbere dos bancos públicos, cevados pelos repasses rotundos do Tesouro Nacional.

E dai?

E para 2016: quando após o walking dead da nova política de ajuste – na verdade a velha (e medíocre) política do feijão com arroz sapecada de botox –, o que se pode esperar para a economia?

Ora bolas, já que o estrago está reconhecido, pelo menos alguém (quem?) que tivesse não apenas a autoridade, mas, acima de tudo, a responsabilidade legitimada para chegar ao distinto público para dizer: “vamos comer o pão e tomar a água (se água houver) que o diabo amassou e esquentou no seu melhor caldeirão…vamos queimar todas as caravelas que nos trouxeram até esta margem estreita da crise fiscal que nós mesmos geramos de tanta mandracaria que fizemos nas contas internas e externas…vamos exorcizar cada desoneração de impostos e cada centavo de dívida pública que geramos sem ter lastro de produtividade e de expansão de produto…mas, em compensação, a partir de 2016 estaremos fazendo tudo o que pudermos para (além de não repetir os mesmos erros), chegar a…”

Isto mesmo: chegar aonde?

Através de quais meios e a partir de quais prioridades?

Ou será que a credibilidade e a confiança que se está a, iconicamente, adorar e desejar deve nascer da natureza espontânea do neoliberalismo comportado (sic) que se está querendo inocular sem que se quebrem os ovos do emprego e das rendas legadas às camadas mais vulneráveis da população?

Ou seja, o que torna o ano de 2015 preocupante, pois, não é o que se pode e deve fazer (a rigor, nada assim tão insondável que já não tenha sido sinalizado ou inferido neste longo e acéfalo período entre o resultado da eleição e a posse dos novos ungidos ao figurino de salvadores da pátria perdida)!

O que torna todo este enredo sinistro é falta absoluta de compromissos reais, tangíveis, qualitativamente comprometidos com o interesse do futuro da economia quando se passar por mais um rubicão de desastres neste nosso interminável stop and go de erros e enganos no conduzir da nossa economia e sociedade.

Compromissos estes, aliás, que não ecoam da situação e nem da sua oposição mais eloquente e barulhenta.

Compromissos para depois do ajuste, isto é o que falta!

E não um conjunto de dois ou três indicadores amarrotados, tirados de qualquer manual de iniciação de contabilidade pública, que ao que tudo indica devem passar a ser o farol que irá guiar a condução da economia brasileira pelos próximos e longos 12 meses do já velho ano de 2015: ou seja, 2015, o ano que já nascerá velho…

Como diria Sêneca – não…não é nenhum novo jogador ou técnico de futebol pinçado para acalmar torcidas organizadas — “para aquele que não sabe aonde quer chegar, qualquer caminho parece ser o mais adequado”.